Quando devo usar o acento indicador de crase?

O acento grave é o acento indicador de crase.
O acento grave é o acento indicador de crase.

Neste artigo, você vai saber quando deve usar o acento indicador de crase. Além disso, vai ler alguns exemplos desse fenômeno linguístico para entender ainda mais sobre esse assunto. E você que gosta dos conteúdos do site Gramática da língua portuguesa, conheça também os livros de seu autor. É só clicar aqui.

O que é a crase?

Chamamos de “crase” a união entre a preposição “a” e os artigos femininos “a” e “as”. Também é crase a junção da preposição “a” com os pronomes demonstrativos “aquele”, “aquela”, “aqueles”, “aquelas” e “aquilo”. Para indicar tal fusão, utilizamos o acento grave [ ` ].

Leia também: Quando devo usar “por que” ou “porque”? Qual é o correto?

Quando usar o acento indicador de crase?

CASOSEXEMPLOS
Um verbo exige a preposição “a” e seu complemento é iniciado pelo artigo feminino “a”.Fui à padaria e comprei um bolo.
Um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) exige a preposição “a” e seu complemento é iniciado pelo artigo feminino “a”.Tenho amor às mais diversas coisas.

Isto é análogo à atitude desprezível dos nazistas.

Tudo aconteceu paralelamente à conquista esportiva.
Um verbo exige a preposição “a” e seu complemento é iniciado pelos pronomes demonstrativos “aquele”, “aqueles”, “aquela”, “aquelas” ou “aquilo”.Não pude assistir àquele jogo inesquecível.

Não pude assistir àqueles episódios da série.

Fui àquela reunião do sábado.

Fui àquelas festas chatas de adolescente.

Precisei reagir àquilo imediatamente.
Um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) exige a preposição “a” e seu complemento é iniciado pelos pronomes demonstrativos “aquele”, “aqueles”, “aquela”, “aquelas” ou “aquilo”.Tinha aversão àquele tipo de comportamento.

Tinha aversão àqueles fascistas.

Estava acostumada àquela rotina.

Estava acostumada àquelas práticas desonestas.

Agiu contrariamente àquilo.
Um verbo exige a preposição “a” e seu complemento é iniciado pelos pronomes relativos “a qual” ou “as quais”.A pessoa à qual me referi não está aqui.

As pessoas às quais me referi não estão aqui.
Um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) exige a preposição “a” e seu complemento é iniciado pelos pronomes relativos “a qual”, ou “as quais”.Essa é a regra à qual devemos obediência.

Essas são regras às quais devemos obediência.

A mudança à qual sou favorável é necessária.

As mudanças às quais sou favorável são necessárias.

Esta é a proposta à qual votei favoravelmente.

Estas são as propostas às quais votei favoravelmente.
Locuções adverbiais femininas.Às vezes, tenho medo de enlouquecer.

Tenho muita fome à noite.

Vire à direita e já está lá.
Locuções conjuntivas femininas.Sua pressão arterial aumentava à medida que divulgavam os números da votação.

Sua pressão arterial aumentava à proporção que divulgavam os números da votação.
Diante do termo “casa”, quando especificado.Fui à casa de minha amiga.
Diante do vocábulo “terra”, quando especificado.Fui à terra de meus avós.

Observe que, nos exemplos da tabela, todos os nomes ou verbos sublinhados são regidos pela preposição “a”:

  • fui a;
  • amor a;
  • análogo a;
  • paralelamente a;
  • assistir a;
  • reagir a;
  • aversão a;
  • acostumada a;
  • contrariamente a;
  • me referi a;
  • obediência a;
  • favorável a;
  • favoravelmente a.

E seus complementos são iniciados pelo artigo feminino “a” ou pelos pronomes demonstrativos “aquele”, “aqueles”, “aquela”, “aquelas” ou “aquilo”, ou ainda pelos pronomes relativos “a qual” e “as quais”.

Quando não usar o acento indicador de crase?

CASOSEXEMPLOS
Diante de verbo.A partir de hoje, não saio mais.

Ela passou a dormir cedo.
Diante do nome de pessoas famosas.Devo minha vida a Rogéria.
Diante de termo masculino.Sua presença estava sempre relacionada a desastre.
Diante de termo feminino não específico.Não fui a aula nenhuma.

No que se refere a festas, prefiro não opinar.
Diante do termo “casa”, quando NÃO especificado, ou seja, como sinônimo de “lar”.Fui a casa logo depois do trabalho.
Diante do vocábulo “terra”, quando NÃO especificado, isto é, com significado contrário a “bordo”.Retornamos a terra depois que o capitão morreu.
Diante de pronome pessoal.Devo a ela tudo que tenho.
Diante de palavra que nomeia uma cidade.Vamos a Recife nas férias.
Diante de alguns pronomes.Não desejo isso a ninguém.

Pedi um favor a esta mulher.

É acessível a toda a humanidade.

Dou a cada um o que ele merece.

Isso diz respeito a qualquer uma de nós.

Obedecia a tudo sem questionar.
Locuções adverbiais de modo, com o substantivo no plural.Caminhava a cegas.  
Expressões com vocábulos repetidos.Não suporto meu dia a dia.

Ficamos assim face a face.
Diante do indefinido “uma”.Ela se referia a uma notícia falsa.

Crase facultativa

Você sabe o que significa “facultativo”, né? Se não sabe, vou te dizer: é algo opcional. Assim, em certos casos, você pode usar ou não o acento grave.

CASOSEXEMPLOS
Diante de pronomes possessivos.Estava alheia à minha dor.

Estava alheia a minha dor.

Estava alheia à tua dor.

Estava alheia a tua dor.

Estava alheia à sua dor.

Estava alheia a sua dor.

Estava alheia à nossa dor.

Estava alheia a nossa dor.

Estava alheia à vossa dor.

Estava alheia a vossa dor.
Diante de nomes próprios femininos.Pedimos à Bárbara que viesse cedo.

Pedimos a Bárbara que viesse cedo.
Diante de nomes femininos de países ou continentes.A menção à Europa foi surpreendente.

A menção a Europa foi surpreendente.

A menção à Espanha foi surpreendente.

A menção a Espanha foi surpreendente.
A expressão “até a”, quando precede substantivo feminino.Fomos até a escola.

Fomos até à escola.
Diante de locuções adverbiais femininas de instrumento.Escreveu à caneta.

Escreveu a caneta.

Escreveu à mão.

Escreveu a mão.

Fez um desenho à faca.

Fez um desenho a faca.

Observações:

► Frases como “Estava alheia a minha dor”, dependendo do contexto, podem gerar ambiguidade. Afinal, alguém pode entender isto: “A minha dor estava alheia”. Nesse caso, usar o acento grave elimina a ambiguidade.

► Também podem gerar ambiguidade frases como “Escreveu a mão”, já que ela pode ser entendida como “A mão escreveu”, em determinado contexto.

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Leia também este livro: De passagem.

Referências

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 49. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.

NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. 15. ed. São Paulo: Scipione, 1999.

SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática completa. 34. ed. São Paulo: Matrix Editora, 2021.

Este artigo foi escrito por: Warley Matias de Souza.